
Enquanto não é possível estar consigo, o outro deixa de ser um encontro e passa a ser um recurso psíquico.
Uma forma de evitar o vazio, de escapar da dor primária, de negar a solidão estrutural.
Nesses casos, o vínculo é tomado como uma muleta emocional.
O outro serve como escudo para evitar o colapso interno.
Não há escolha, há dependência.
Estar consigo é processo.
É tolerar a ausência do espelho constante.
É suportar o luto de não ser completado.
É abrir espaço interno para ambivalência, frustração e desejo, sem se perder.
Só então, o vínculo deixa de ser compulsivo e passa a ser real.
Na terapia, esse é um trabalho lento, profundo e transformador.
Mas ele devolve algo essencial:
a capacidade de se relacionar, e não apenas fundir-se para sobreviver.
