
O que é o seu desejo?
Uma necessidade?
Uma falta a ser suprida?
Fato é que existe uma busca incessante por algo faltante.
Poderíamos, então, dizer que somos seres incompletos.
Sem a falta, não existiria movimento.
Não haveria busca, nem transformação.
A falta nos acompanha desde o início da vida.
Ora fome, ora sono, ora um desconforto no corpo… e o bebê chora. Prontamente, alguém o atende. Ele se sacia. Mas, pouco tempo depois, a falta retorna.
Essa criança cresce nessa gangorra entre carência e satisfação.
Inconscientemente, o ser humano vivencia o abismo da separação — nasceu em simbiose, dentro de alguém, para depois viver a solidão da independência.
Com isso, instala-se uma inquietação profunda: a ideia de que é preciso buscar algo constantemente para prevenir ou evitar a falta.
Começa, então, a diligência pela vida: trabalho, amigos, relacionamentos, diversão, conhecimento…
Objetos externos usados para preencher o que parece faltar por dentro.
Mas não é a vivência em si que importa, e sim o quanto esse objeto pode — mesmo que temporariamente — suprir a falta.
E como a falta não pode ser preenchida por fora, ela permanece.
Novos objetos entram em cena.
O ciclo se repete.
Seria o caminho olhar para dentro?
Encontrar-se com a falta e permitir que ela exista?
Talvez a falta não precise ser resolvida, nem preenchida.
Talvez ela esteja aqui para ser vivida.
Margear a falta, sem pisar nela ou ignorá-la, pode ser uma forma de constituí-la — e com isso, viver em paz.
Agradecer por sua existência pode soar insano, mas é também libertador.
Pois permite que um fluxo de compreensão natural se estabeleça.
Acolher a nossa humanidade é desafiador, mas é justamente aí que reside a liberdade de compreender a nossa verdadeira natureza.